Central De Atendimento
construção sustentável

Entendendo o Ciclo de Vida das Construções em Light Steel Frame: Uma Abordagem Sustentável

Nos últimos anos, a construção civil tem enfrentado um desafio enorme: como construir de forma mais sustentável, reduzindo o impacto no meio ambiente e atendendo às necessidades de um mundo que busca combater as mudanças climáticas? Uma das respostas a essa pergunta está no uso do Light Steel Frame (LSF), um sistema construtivo que utiliza perfis de aço leve para criar edifícios resistentes, rápidos de montar e, principalmente, mais amigos do planeta.

Neste texto, vamos explorar um estudo detalhado sobre o ciclo de vida de uma construção em LSF, traduzindo conceitos técnicos complexos em uma linguagem simples e acessível, mas sem perder o rigor científico. Vamos mostrar como o LSF se compara a métodos tradicionais, como o concreto armado, e por que ele pode ser uma solução promissora para o futuro da construção.

Esse texto foi produzido com base no artigo “Life Cycle Environmental Assessment of Light Steel Framed Buildings with Cement-Based Walls and Floors”, publicado por Mona Abouhamad e Metwally Abu-Hamd na revista Sustainability em 2020 (doi:10.3390/su122410686).

O que é Light Steel Frame?

Imagine que você está montando um brinquedo de blocos, como um Lego, mas em tamanho real. No lugar de peças de plástico, usamos perfis de aço leve, fabricados em uma linha de produção precisa, que depois são levados ao canteiro de obras e encaixados rapidamente para formar paredes, pisos e até o esqueleto de um prédio. Isso é o Light Steel Frame, ou LSF.

Diferente das construções tradicionais, que dependem muito de tijolos, cimento e concreto, o LSF usa menos material e é mais leve, o que já dá uma pista de por que ele pode ser mais sustentável. Mas, para entender de verdade suas vantagens, precisamos olhar para o ciclo de vida completo de uma construção assim – desde a extração dos materiais até o dia em que o prédio é desmontado ou reciclado.

O que o Estudo Analisou?

O estudo que vamos explorar usou uma ferramenta chamada Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), uma espécie de “biografia ambiental” do prédio. A ACV analisa todas as etapas da vida de uma construção:

  1. Produção dos Materiais: Quanto impacto ambiental acontece para extrair o aço, fabricar os perfis e preparar o concreto das fundações?
  2. Construção: E quando esses materiais são transportados e montados no canteiro?
  3. Uso: Como o prédio consome energia enquanto está sendo ocupado, por exemplo, com ar-condicionado ou iluminação?
  4. Fim da Vida: O que acontece quando ele é demolido ou desmontado? Podemos reciclar algo?

Para testar isso, os pesquisadores escolheram um prédio de escritórios da Universidade do Cairo, construído em 2017. Ele tem cinco andares, mede 16 por 16 metros e foi feito com LSF, usando aço leve para as paredes e pisos, além de fundações de concreto. O objetivo era medir o impacto ambiental desse prédio e compará-lo com construções tradicionais.

Por que Isso Importa?

Antes de mergulharmos nos resultados, vale entender por que a ACV é tão útil. Pense assim: às vezes, uma escolha parece boa à primeira vista, mas quando olhamos o quadro todo, percebemos que ela tem custos escondidos. Por exemplo, um material pode gastar pouca energia enquanto o prédio está em uso, mas sua fabricação pode ser um desastre para o meio ambiente. A ACV ajuda a evitar essas armadilhas, mostrando o impacto total de uma construção ao longo de décadas.

No contexto atual, isso é ainda mais crucial. O setor da construção é um gigante em termos de impacto ambiental: em 2018, ele foi responsável por 39% das emissões de gases de efeito estufa relacionadas a energia, segundo o estudo. Com o Acordo de Paris pedindo uma redução drástica nas emissões para limitar o aquecimento global a 1,5°C, encontrar formas de construir com menos danos ao planeta é uma necessidade urgente.

Os Resultados em Números Simples

Agora, vamos aos pontos principais do estudo, explicados de forma clara.

1. Impacto Ambiental Total

O estudo mediu dois indicadores principais:

  • Potencial de Aquecimento Global (GWP): Isso mostra quanto o prédio contribui para o aquecimento global, calculado em quilos de dióxido de carbono equivalente (CO₂ eq) por metro quadrado. É como se perguntássemos: “Quantos gases de efeito estufa esse prédio ‘joga’ no ar?”
  • Consumo de Energia Primária: Aqui, medimos toda a energia necessária para criar e manter o prédio, em gigajoules por metro quadrado (GJ/m²). Pense nisso como a “conta de luz” total do ciclo de vida.

2. Comparação com o Tradicional

A grande surpresa veio ao comparar o LSF com métodos como concreto armado ou aço estrutural pesado. Veja os números:

  • GWP Incorporado (impacto da produção e construção): O prédio em LSF emitiu 180,41 kg de CO₂ eq/m². Em construções tradicionais, esse valor fica entre 200 e 350 kg de CO₂ eq/m² só para a estrutura, e pode chegar a 600 a 850 kg de CO₂ eq/m² para o prédio inteiro. Ou seja, o LSF é bem mais “leve” para o planeta.
  • Energia Incorporada: O LSF consumiu 2,27 GJ/m², enquanto métodos tradicionais gastam de 5 a 11,6 GJ/m². Isso é uma economia enorme de energia.

Esses números mostram que o LSF reduz o impacto ambiental já na fase inicial, antes mesmo de o prédio ser usado.

3. De Onde Vem o Impacto?

O estudo também dividiu o impacto por partes do prédio:

  • Fundações: Contribuem com 29% do GWP e 20% da energia incorporada. Isso porque, mesmo no LSF, ainda usamos concreto nessa parte.
  • Esqueleto de Aço Leve: Representa 30% do GWP e 49% da energia incorporada. O aço exige bastante energia para ser produzido, mas o uso eficiente no LSF compensa isso.
  • Outros Elementos: Paredes, pisos e telhado dividem o resto, com impactos menores.

4. As Etapas do Ciclo de Vida

Olhando por fases, o estudo mostrou:

  • Produção de Materiais: É o vilão principal, responsável por 90% do GWP e da energia incorporada. Fabricar aço e concreto exige muito do meio ambiente.
  • Construção: Tem um impacto bem menor, graças à rapidez e eficiência do LSF.
  • Uso: Aqui, o consumo de energia (como eletricidade e gás) domina, mas o LSF pode ser projetado para ser eficiente nesse ponto também.
  • Fim da Vida: O impacto é pequeno, e o LSF brilha por ser fácil de desmontar e reciclar.

5. O Poder da Reciclagem

Um dos maiores trunfos do LSF é o aço ser reciclável. Quando o estudo incluiu os benefícios da reciclagem (o que chamam de “Módulo D”), o impacto caiu ainda mais:

  • O GWP incorporado diminuiu em 15,4%.
  • A energia incorporada caiu 6,22%.

É como se, ao reciclar o aço, devolvêssemos uma parte do “estrago” ambiental ao planeta.

Por que o LSF Ganha?

Então, o que faz o Light Steel Frame ser tão vantajoso? Vamos listar os motivos:

  • Leveza: Como o aço é mais leve que o concreto, usamos menos material e gastamos menos energia para transportar e montar.
  • Precisão: Os perfis são feitos em fábrica, quase sem desperdício, como cortar um bolo com uma régua em vez de uma faca qualquer.
  • Velocidade: A construção é rápida, o que reduz o uso de máquinas e energia no canteiro.
  • Reciclagem: O aço pode voltar para a indústria e virar algo novo, diferente do concreto, que muitas vezes vai parar em aterros.

Pense no LSF como um carro elétrico comparado a um carro a gasolina: ele é mais eficiente desde o início e ainda tem um “tanque” que pode ser reaproveitado.

O Contexto Maior

Esses resultados não são apenas números soltos – eles têm um peso enorme no cenário global. O setor da construção é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa, e materiais como cimento e aço tradicional são grandes culpados. O estudo destaca que, em 2018, 11% das emissões do setor vieram da fabricação desses materiais. Com a população mundial crescendo e a previsão de que o número de construções dobre até 2050, precisamos de alternativas como o LSF para cumprir metas climáticas, como as do Acordo de Paris.

Limitações do Estudo

Nem tudo é perfeito. O estudo analisou só um prédio, então os resultados podem variar em outros lugares ou tipos de construção. Além disso, ele deixou de fora coisas como acabamentos (pisos, tintas, portas), que também têm impacto ambiental. Isso significa que mais pesquisas são necessárias para ter certeza de que o LSF é sempre a melhor escolha. Mas, mesmo com essas limitações, os dados já apontam um caminho promissor.

Conclusão: Um Passo Rumo ao Futuro

O estudo sobre o ciclo de vida do Light Steel Frame nos dá uma visão clara: esse método pode ser uma arma poderosa para construir de forma mais sustentável. Com menos emissões de carbono, menor consumo de energia e a possibilidade de reciclar o aço, o LSF é como um aliado na luta contra as mudanças climáticas. Ele não resolve tudo sozinho – afinal, a produção de materiais ainda é um desafio –, mas mostra que pequenas mudanças no jeito de construir podem fazer uma grande diferença.

Para o público leigo, a mensagem é simples: imagine um mundo onde as casas e prédios não só abrigam pessoas, mas também ajudam a proteger o planeta. O LSF é um passo nessa direção, e estudos como esse, publicado em Sustainability (2020, doi:10.3390/su122410686), provam que é possível unir tecnologia, praticidade e cuidado com o meio ambiente. À medida que a construção civil se reinventa, o Light Steel Frame pode ser uma das chaves para um futuro mais verde.

Quer saber mais? O estudo completo está disponível nesse link.

Compartilhe:

Arquiteta formada pela UFRGS e gerente de marketing da Drystore

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Drystore bg

Fale Conosco

Entre em contato conosco e solicite seu Orçamento